O gatinho preto tinha sido amarelo às malhas e, por isso chamavam-lhe Pintalgato.
Pintalgato gostava de passear na linha onde o dia faz fronteira com a noite. Fazia de conta que o pôr do sol era um muro.
A mãe estava sempre a dizer:
- Nunca passes para o lado de lá!
O filho dizia que sim mas não conseguia resistir.
Um dia ganhou coragem e passou uma perna para o outro lado. Passou a outra perna e foi passando cada vez mais até que metade dele ficou do outro lado do muro.
Quando olhou para as pernas dianteiras viu que estavam pretas. Escondeu-se para que a mãe não o visse assim tão escuro. E chorou muito, muito!
De repente ouviu uma voz a dizer:
- Não chores gatinho!
- Quem é ?
- Sou eu, o escuro. Eu é que devia chorar porque olho para as coisas e não vejo nada. E todos têm medo do escuro!
E desataram os dois a chorar.
Entretanto, apareceu a dona gata e consolou o escuro, dizendo que não é o escuro que mete medo, nós é que enchemos o escuro com os nossos medos. E fez-lhe muitas carícias até que ele adormeceu.
Quando o escuro acordou viu que as suas costas estavam da cor do arco-íris. E a dona gata convidou-o para ser seu filho.
De repente, o Pintalgato acordou e viu que tudo não tinha passado de um sonho...
(Trabalho realizado, a partir da leitura do livro
"O gato e o escuro" de Mia Couto)
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